O uso da língua inglesa em território brasileiro é cada vez mais comum, como se fosse um idioma nativo. Ouvimos piadas que ridicularizam os portugueses, menosprezo ao tamanho miúdo de Portugal, e a dificuldade permanente de falar o português gramaticalmente correto em vez de aberrações do tipo ‘agente’ (substituindo ‘nós’), ‘ponhar’ e ‘seje’.

 

O Brasil é um país que recebe os modismos e as tendências globais e hegemônicas antes mesmo de que apareçam. Filosofia à parte. Nosso povo valoriza quase tudo que é estrangeiro, tem um pé atrás quanto a coisas nacionais, e tem impulsionado sua criatividade através das redes sociais. Assimilamos, modelamos e reinventamos.

 

Nesse cenário cultural e linguístico, lojas brasileiras anunciam descontos em seus produtos como ‘30% off’ ou ‘sale’ em vez de ‘30% de desconto’ ou ‘promoção’; a parte posterior de camisetas profissionais exibe ‘staff’ no lugar de ‘equipe’; academias e eventos oferecem ‘free pass’ em vez de ‘entrada livre’ a clientes potenciais.

 

Como se não bastasse, garçons trazem cardápios com refeições escritas em inglês como se os clientes fossem visitantes estrangeiros; endereços eletrônicos possuem o sinal de ‘underline’ (_) em vez de ‘sublinha’; e é curiosa a proliferação de ‘haircutters’, ‘hairdressers’ e ‘barber shops’ em cidades brasileiras. Para os mais antigos e tradicionais, cabeleireiro, celular sem tela ‘touch’ e jornal impresso ainda não são coisas do passado.

 

Houve uma época, até poucas décadas atrás, que o francês era a língua da vez: ‘réveillon’, ‘déjà-vu’, ‘buffet’. Hoje, é ‘fancy’ (chique) anunciar em inglês. Tamanha é a influência do inglês no mundo que ele comanda a linguagem da computação, das redes sociais, da aviação e dos negócios. A expansão militar (ocupações, alianças, guerras) e cultural (música, cinema, Netflix) dos Estados Unidos amplia as fronteiras globais do inglês.

 

Ainda assim, uma porcentagem diminuta de brasileiros sabe comunicar-se em inglês, e, entre estes, menor ainda é o número dos que são fluentes. O Brasil possui abertura cultural a estrangeirismos a ponto de ‘nativizar’ com naturalidade aquilo que não é nosso. Essa disposição deve-se às inconstâncias de nosso desenvolvimento, à busca insaciável de referências, e ao fato de constituirmos um rebotalho da modernidade europeia.

 

Há que incutir em nossa cultura a sede de conhecimento. Já que o inglês é hoje tido como língua global, o melhor a fazer é aprendê-lo e melhorá-lo em dedicação constante. Somos abertos, atentos e receptivos ao mundo; falta-nos conhecê-lo e entendê-lo melhor.

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