Inglês na real

Bruno Peron

O viajante brasileiro arruma as malas, planeja um roteiro, prepara os documentos, e chega animado aos Estados Unidos. Depois de ter estudado inglês durante meses ou até anos com métodos tradicionais, surpreende-se por não entender pessoas no aeroporto. Esta é a sensação que muitos brasileiros carregam ao ter contato com culturas nativas de inglês, além das operações linguísticas que viram nos livros escolares.

É normal que um não-nativo de inglês tenha pressupostos e confie em seus conhecimentos parciais para efetivar a comunicação. Ele supõe que já sabe o suficiente e que não terá dificuldades, fez um curso intensivo de inglês, mas finalmente é posto em contato com o nativo de inglês. Imagine também a contrapartida de um estrangeiro que aprende português fora do Brasil, e logo viaja ao nosso país e interage com brasileiros.

O primeiro grande problema é o de deixar o inglês para última hora, como se fosse algo fácil e rápido. Muitas pessoas buscam professores particulares e escolas três meses antes de uma viagem internacional ou quando não avançaram numa entrevista de emprego por não ter conhecimento de inglês. Tiveram pouco incentivo educacional para aprender um segundo idioma desde cedo, pois não se planejaram nem acreditaram que pudessem usar inglês em seu cotidiano. Mas hoje quase tudo está em inglês: comunicação em viagens, língua para negócios, manuais técnicos, celulares e informática, filmes e músicas, tecnologias avançadas.

Além disso, muitos têm a impressão de aprender inglês quando ouvem apenas professores brasileiros e aprendem apenas com materiais didáticos tradicionais, que são artificialmente preparados para ensinar inglês. Quando acham que dominam a língua e viajam à Disney, não conseguem entender o oficial de migração no aeroporto, o recepcionista do hotel, o balconista da loja, ou o farmacêutico para comprar um remédio.

E não são poucos que têm essa dificuldade. Isso se deve a que o aprendiz de inglês raramente se habitua à musicalidade e ao ritmo da língua inglesa como ela é praticada por nativos. Quando digo que o idioma inglês é musical, refiro-me a um tema chamado ‘stress and intonation’ (ênfase e entonação). Sem mencionar as gírias, as expressões idiomáticas, as supressões de palavras formais que somem no discurso informal.

O brasileiro consegue se fazer entender pelas outras pessoas, mesmo que cometa alguns erros de pronúncia e sintaxe (construção e formação de frases). Por vezes, ele não usa o vocabulário mais adequado para aquela situação, ou tem a impressão de que as palavras fogem da boca (ou seja, aprendeu inglês sem efetivamente internalizar o conteúdo). Tem dificuldade também para captar os usos informais da língua (por exemplo: ‘I wanna do it’ em vez de ‘I want to do it’; ‘You alright?’ em vez de ‘Are you alright?’; ‘How are ya?’ em vez de ‘How are you?’). Porém, ele sente dificuldade maior na contrapartida: entender o nativo de inglês.

Uma saída para resolver essa dificuldade é beber de fontes nativas de inglês: filmes, músicas, livros auditivos e rádios podem ajudar bastante os aprendizes de inglês a aprender a musicalidade e o ritmo da língua sem ter que sair do Brasil. Não há necessidade de morar lá fora para falar inglês fluentemente, mas de esforço extra. É urgente fugir do comum e experimentar culturas nativas de inglês, além dos livrinhos didáticos. Experimente focar sua atenção nos usos da língua em vez de regrinhas de gramática e verá seu inglês decolar.

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